Hidrogeologia da Várzea do Rio Paraíba do Sul: estudo de caso de uma área de mineração no município de Tremembé, SP, Brasil (doi:10.4136/ambi-agua.155)

  • Hélio Nobile Diniz Instituto Geológico/SMA
  • Márcia Helena Galina Instituto Geológico/SMA
  • Getulio Teixeira Batista UNITAU
  • Marcelo dos Santos Targa UNITAU
Palavras-chave: várzea do Rio Paraíba do Sul, cavas de mineração de areia, interferências no armazenamento e qualidade das águas do aquífero quaternário

Resumo

A atividade de mineração de areia na porção paulista do Vale do Paraíba do Sul iniciou-se a partir da década de 50, na porção sudoeste da Bacia do rio Paraíba do Sul, município de Jacareí (SP) e se alastrou para os municípios vizinhos, sob a influência das demandas da urbanização e da industrialização, ainda hoje impulsionadas pela Região Metropolitana de São Paulo. Objetivou-se por meio do presente trabalho testar a hipótese sobre interferências provocadas pelas cavas de mineração de areia nas condições de armazenamento e na qualidade da água no aquífero sedimentar quaternário, uma vez que se notou a carência de estudos hidrogeológicos detalhados nessa área. A presente investigação se deu na escala local, numa área localizada a leste do município de Tremembé (SP), denominada Mineração Paraíso, com base em procedimentos técnicos que englobaram testes de infiltração e de vazão; análises laboratoriais dos índices físicos do solo e da qualidade da água; preparação de infraestrutura para as instalações de equipamentos - poços e piezômetros; sondagens SPT (Standard Penetration Test) e trabalho de gabinete. A partir dos resultados das análises dos índices físicos do solo, foi identificada alta porosidade (66%) nos solos friáveis da várzea, condição que quando somada aos valores elevados de transmissividade (15,5 m2/h - poço 1- e 33 m2/h - poço 3), obtidos a partir dos testes de vazão, proporciona um maior poder de transporte de solutos – incluindo bactérias - nas águas subterrâneas. Os resultados da análise granulométrica mostraram que a técnica de extração de areia utilizada, além de predatória também se mostrou ineficiente, uma vez que a areia do fundo da cava não é aproveitada, assim como no caso das argilas bentoníticas, encontradas nas camadas mais profundas. Os ensaios SPT (Standard Penetration Test) indicaram que o aquífero sedimentar quaternário (camada arenosa) possui uma espessura média de 5,5 m; em adição indicaram a existência de uma camada superior, composta por argilas orgânicas impermeáveis - a qual torna os depósitos arenosos confinados; identificaram ainda um aquiclude, formado pelas argilas bentoníticas verdes, logo abaixo da camada confinante. No entanto, é necessário salientar que a condição de confinamento se perde à medida que o solo orgânico - camada confinante - é removido para a instalação das cavas. Nesse caso, os depósitos arenosos passam a ter contato direto com o ar atmosférico, constituindo o aquífero do tipo livre. No que diz respeito à qualidade da água, o elemento nitrogênio amoniacal apresentou ocorrência acima dos limites esperados, tanto nos poços quanto nas cavas em operação. Tal situação é favorecida pelo lançamento do solo agriculturável, rico em ureia (nitrato de amônia), o qual é removido para instalação das dragas de extração de areia. Nas águas subterrâneas também foram registradas bactérias heterotróficas. Diante desse contexto, confirmam-se as consequências negativas nas condições de armazenamento e na qualidade da água do aquífero investigado, produzidas pelas atividades de mineração de areia.

Biografia do Autor

Getulio Teixeira Batista, UNITAU
Concluiu o doutorado em Agronomia / Sensoriamento Remoto na Universidade de Purdue, EUA, em 1981. Atualmente é Professor Assistente Doutor da Universidade de Taubaté. Publicou diversos artigos em periódicos especializados e cerca de 150 trabalhos em anais de eventos. Atualmente participa de 7 projetos de pesquisa, sendo que coordena 2 destes. Atua na área de Recursos Florestais e Engenharia Florestal, com ênfase em Conservação de Bacias Hidrográficas. Em suas atividades profissionais interagiu com 389 colaboradores em co-autorias de trabalhos científicos. Em seu currículo Lattes os termos mais freqüentes na contextualização da produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: Sensoriamento Remoto, Agronomia, Geoprocessamento, Índice de Vegetação, Previsão de safra, Aplicações de Sensoriamento Remoto, Uso da terra, Modelo de Mistura Espectral, Sensores e Técnicas de Sensoriamento Remoto e Classificação do Uso da Terra. Foi pesquisador Principal do Programa Internacional EOS da NASA, onde trabalhou de 1990 a 1992 (Goddard Space Flight Center). Atualmente é membro do Comitê Assessor Recursos Florestais do CNPq e tem participado de vários comitês ad hoc para o CT-HIDRO.
Publicado
23/12/2010
Seção
Artigos